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Um lazer nostálgico para Itaquera

Atualizado: 26 de jun. de 2019

Por mais de 30 anos, o Parque Marisa se mantém como opção de diversão para as famílias do extremo da Zona Leste



As luzes piscam em um ritmo constante, verde, vermelho, roxo, amarelo, chamando a atenção para a roda gigante presente ali. Próximo à ela, os gritos dos passageiros do Kamikaze tornam-se a principal consonância, com alguns visitantes a observar ao brinquedo com um misto de curiosidade, ansiedade e medo. Um pouco mais à frente é necessário desviar de crianças pequenas correndo animadas até a mini pista, e seus pais fazendo o caminho até a autopista.


As atrações do Parque Marisa fazem um contraste com o bairro no qual se encontram. Próximo ao E.T de Itaquera, há apenas alguns minutos da estação Dom Bosco e paralelamente a avenida Jacu Pêssego. É um parque de diversões no centro do distrito, que reúne diversos tipos de pessoas e por vezes passa despercebido, como para a equipe desta reportagem.


O caminho até ali se mostra um verdadeiro desafio nível hard. O objetivo da equipe era um só: atravessar zonas opostas da cidade em uma das linhas de ônibus mais longas presentes na SPTrans, a 4025/10 (Vila Califórnia – E.T. Itaquera). Justamente por ser considerada a mais extensa de São Paulo, recebe muitas críticas de passageiros. “Tem dias, como na semana, que demora mais de duas horas para um ônibus sair de um final a outro”, desabafa Edson Silva, um passageiro diário.

Assim, ao seguir viagem, fica claro que os cenários de um extremo a outro da longa Zona Leste nos apresenta seus contrastes, em seus mais de 30 km percorridos. Enquanto estamos na região de Sapopemba, nos vemos cercados de prédios e comércio de todos os tipos. Entretanto, ao cruzar com São Mateus e assim até o nosso ponto final, em Itaquera, percebe-se um clima interiorano, com um cenário mais verde. Chega a ser um choque. “É a melhor parte de se pegar este transporte. Saber que existem estes dois tipos de paisagem para você apreciar”, nos conta Sônia Maria, moradora de Itaquera que trabalha na região da Vila Prudente. “Apesar de estar acostumada com este caminho não nego que seja cansativo. São quase três horas de viagem, tanto na ida quanto na volta.”


Ao chegar ao ponto final, são mais de 2h40min de viagem. E ao descermos do ônibus, algo nos chama a atenção de forma ímpar: o grande parque de diversão titulado Marisa. O nome causou estranheza de primeira instância, assim como o aspecto vazio do parque. Porém, a curiosidade presente foi tamanha que foi necessário conhecer o cenário a frente.


História


É considerado um dos parques mais antigos de São Paulo segundo a Adibra (Associação dos Parques de Diversões do Brasil). Já foi concorrente direto dos antigos Playcenter, que já foi o maior parque da cidade e fechou em 2012, e Hopi Hari, que enfrenta recuperação judicial, brigas e disputas societárias. É o último, a céu aberto e fixo. Isto por conta dos altos impostos e falta de terrenos.


O início se deu em 1973 com o empreendedor Miguel Cerretti. O interesse nessa área surgiu ainda na infância enquanto acompanhava seu pai, um fornecedor de estatuetas para barracas de prendas, em parques de diversão. Com apenas 14 anos já tinha sua própria barraca de argolas em um parque, e aos 20 conseguiu o necessário para comprar o seu próprio parque itinerante.


Ao chegar em Itaquera, a ideia era permanecer no bairro por 30 dias, que já se somam 33 anos, neste ano. “Eu não digo que são as mesmas pessoas que se repetem na mesma semana, mas você vê uma vez por mês gente que vem sempre. É sinal que as pessoas estão gostando”. Ele se impressiona, até hoje, com o quanto o parque cada vez mais ganha fama pela cidade.


Quando perguntado sobre a escolha do nome "Marisa", nos deparamos com uma história um tanto peculiar. Ao comprar o parque, Cerretti e sua esposa estavam esperando um filho, do qual achavam que seria uma menina, que dariam o nome de Marisa. Para homenageá-la, decidiu que o nome do parque seria esse. Porém, ironicamente, foi um menino que nasceu meses depois. Hoje Cerretti tem três filhos homens que o ajudam com a administração do parque.


Concorrência


Como um dos grandes polos da Copa do Mundo de 2014, o bairro de Itaquera ganhou um estádio, o Arena Corinthians, popularmente conhecido como Itaquerão. Mesmo assim, segundo alguns moradores das proximidades, este foco não melhorou um dos muitos problemas do bairro: áreas de lazer.


Alguns pontos que recebem visitas consideráveis são os parques Olavo Egydio Setúbal (Parque do Carmo) e Raul Seixas. Também soma-se o Sesc e Aquário de Itaquera. Porém, para o dono do parque a concorrência é outra. “O único concorrente forte que eu tenho aqui é o shopping center, o shopping de Itaquera. Único concorrente que temos mesmo. ” Afirma Cerretti.


Brinquedos


Ao todo são dezenove atrações, das quais onze são infantis e nove adultas. Além de quatro jogos que são atividades terceirizadas dentro do parque. Dentre os brinquedos infantis encontram-se o carrossel estilo clássico, um pula-pula e até mesmo uma mini pista para os pequenos. Já para os adultos existem atrações mais calmas, como a roda gigante e autopista, e as que exigem uma coragem a mais, como o Kamikaze ou a montanha russa.



“Esta é a segunda vez que venho aqui”, nos conta David, morador do bairro e amigo de Cerretti. “É uma ótima forma de distração, principalmente para as crianças. Sem este parque o lazer no bairro acaba.”


Algo que chama a atenção são os detalhes bem feitos e conservados dos brinquedos, que dão um ar retrô ao ambiente, em especial o Carrossel. Com este cenário, o parque que é aberto ao público, torna-se palco para diversos ensaios fotográficos, como ocorreu com a cantora Anitta e muitas debutantes moradoras da região. “Existe uma relação bem próxima entre o parque e alguns de seus frequentadores mais assíduos”, nos diz Cerretti.


Flávio, 44, frequenta o parque desde criança. “Não lembro desde quando ele estava aqui [em Itaquera] mas já o visitava quando era somente terra. Com o tempo ele foi ganhando mais brinquedos e a infraestrutura melhorando. Levo toda a minha família. É muito bacana ver o brilho nos olhos de meus filhos”, conta.


Segurança


O caso mais grave ocorreu em 2008, quando uma criança morreu após ir em um dos brinquedos. Os veículos noticiaram que a criança havia caído da “Torre”, um simulador de elevador em queda, sofrido um traumatismo craniano e em seguida uma parada cardiorrespiratória. O dono do parque pagou a indenização à família, mas foi absolvido na justiça.


A segurança é um dos fatores mais importantes do parque, por isso conta com uma equipe durante a semana e uma nos finais de semana e feriados de funcionamento. Durante a semana, é realizada a verificação e manutenção rápida dos brinquedos. “Tenho uma equipe de 15 funcionários, dentre eles pintor, eletricista, mecânico e ajudante geral que trabalham semanalmente para o parque estar seguro.”, conta Cerretti.


Já nos finais de semana e feriados, existe uma equipe de segurança que já está no parque há quinze anos. Qualquer caso que aconteça no local é visto rapidamente e, se necessário, em caso de roubo por exemplo, um funcionário do parque leva a vítima até a delegacia para o B.O. Porém, o dono afirma que são casos raros.

Os visitantes do parque concordam que a segurança é um dos pontos altos presentes ali. É um dos fatores decisivos para escolherem o parque como opção de lazer. "O que une as pessoas é o parque. Principalmente pelo bairro ser periférico e apresentar pouca segurança e opções de lazer", diz Felipe Siqueira, morador de Itaquera.


Além disso, para acidentes ou algum visitante que passe mal, o parque conta com bombeiros treinados para qualquer imprevisto.


Ambiente familiar


O parque tem uma presença concentrada de famílias, sejam elas pequenas ou grandes. “É um parque voltado a família” diz Cerretti. "É impressionante ver a quantidade de pais que se divertem junto aos seus filhos."


Stefany dos Santos, moradora do bairro Patriarca, trouxe seus dois filhos e o marido para se divertirem no parque. “Felizmente com o Uber e a melhora no transporte do bairro, ficou mais fácil para se deslocar”. Frequenta o parque desde pequena, e agora trás os filhos, que se divertem muito. “Hoje eu vim pela ansiedade de minha filha Hilary. Não troco este parque por nada. Além de ser mais barato e divertido que o do shopping, conheço e confio nos funcionários e na segurança, o que faz diferença”.


Faturamento


A decisão de manter-se em apenas um lugar, concentrando as despesas, foi determinante para consolidar o empreendimento e enfrentar a concorrência quando havia mais parques de rua. Outro ponto importante é a estratégia de abertura aos finais de semana e feriados.


A utilização dos brinquedos é realizada mediante aquisição de ingressos individuais, que custam R$ 5 cada, ou R$ 40 uma cartela com 10 ingressos. Segundo Cerretti o parque recebe cerca de 4 mil visitantes durante o final de semana, com uma média de 10 mil ingressos vendidos.


O Marisa tem ainda estacionamento, banheiros, fraldário e seguranças, mas o empresário explica que embora os gastos com água, energia e funcionários sejam altos, os maiores custos são com os frequentes ajustes nos brinquedos.


Uma forma de lazer que se tornou impopular para uma cidade grande como São Paulo, o parque de diversões é uma escapatória para os jovens e uma nostalgia aos adultos. “Me sinto muito bem aqui. Acho que estou me divertindo mais do que as crianças”, diz Stefany dos Santos.


Para Cerretti o parque tem estado em uma ótima época, e a cada fim de semana é surpreendido pela quantidade de visitantes “Aparecem pessoas de todas as áreas na Zona Leste”. Quando perguntado se pretende expandir o parque ou se existe algum novo plano, Cerretti sorri “Já estou cansado. Vamos ficar por aqui mesmo”.




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